F C M

TTT

"Na elegia ou contando histórias.
Dançarinos, o universo é duos."

imagem do google

entrevista com Marcelo Novaes

Felipe: sopas, óperas, epopéias ou haikus?


Umas sopas vão bem neste inverno. Sapoy’Té, Marcelo. Opus de “obras” do Latim mesmo, de engenharia e arquitetura. Agora, entre um Haikai de Bashô e “Os Lusíadas” de Camões, apesar de gostar dos dois centenários poetas, prefiro o primeiro, por ensinar muito em átomos de palavras e∕ou desenhos...


"Saudade do que poderia ter sido" é Nostalgia. Auroras Boreais tingem a tua letra?


Sim. De repente me dá aquela folia SDM de ver o sol nascer na praia. Estar em lugar nenhum ou numa ilha deserta cheia de nada. E só me resta nadar... A realidade é dolorida – e prazerosa. E não é tristeza, apesar d’eu ser um Somman Blues (Esquecido Distraído). A & B ou gramas de conhecimento sempre vão matizar minha escrita...


Esclareça-me uma coisa: como é o pensar-por-ideogramas? É o que fazemos sem saber, ou é um salto-no-saber que aprendemos, eventualmente?


Difícil aprendizado... Fácil é discutir filosofia da linguagem e comunicação poética (risos). Mas vamos lá. Às vezes quero mudar isto de identidade>coresou cromos>ser. Falar o incognoscível. Sem concisão. Ser inconcluso... Angular o momento. Por exemplo, deite o número 8, e temos o indiscutível... O infinito transcendental... Os sons do silêncio... Engolir sapos... Não sei se saltei na sua sapiência... Quero desaprender.


O que significam China e Japão no seu imaginário? São "terras secretas", como Shangrilá dos filmes [ou Shambala dos Tibetanos], ou são "terras concretas", com ideologia e história? O que significa, Felipe, ter um olho Ali?


Da enigmática orientalização, conheço os quadrinhos inversos de mangá, as artes de Confúcio e algumas poucas películas de cinema Shynês e Kuronês.Sei que Yoga, Do-in e Caminhadas são vivificantes. Mas sei pouco da ideologia∕história da China e Japão... dizem que inventaram quase tudo, até o socialismo-capitalista da 2º economia mundial (China) e a segunda maior expectativa de vida do planeta (Japão). Da cultura onde o sol nasce antes, aprendi um naco com a Liberdade de São Paulo e com os imigrantes de Campo Grande. Agora, por exemplo, é época de folclore nipônico. Dançar ao Bon Odori. Comer um Sobá com hashi na feira. Curto o arquiteto japonês Tadao Ando que não estudou em universidade qualquer para exercer sua profissão – o cara é um dos meus ídolos de olhos rasgados.


O que mais se aprende vertendo música-sem-nota de uma língua à outra? Qual o prazer do tradutor/ transcriador Felipe Costa Marques?


Tradução sempre será como entrar na cabeça do autor e suas viagens... Tipo ser o Gavin do filme “Quero ser John Malkovich”. Ser “o” (re)ator do escritor atemporal. E nesta salgada transcriação linguístico-textual haverá sempre uma pitada do seu próprio cloreto de sódio. Um lúbrico tempero no ego. E nas elipses de quem gosta.


O poeta é um filósofo preguiçoso, ou um arquiteto a esboçar uma planta para-sempre-inconclusa? O que significa ser fotógrafo-poeta? Ou devo inverter a ordem dos termos da expressão?


Iria gostar de projetar uma obra para-sempre-inconclusa pois é a poesia (sapoie) uma filosofia digna do mestre Bananeira, que os preguiçosos como eu adoram... J'aime a fotografia, até acho que você não deve inverter os termos da expressão, porque já tirei milhares de fotos e até participei de exposições coletivas em antropologia visual quando ainda cursava Ciências Sociais. Mas quem sabe depois desta entrevista ou após publicar algo “concreto” em verso, eu: inverso. Ué!


Conte-me quando as palavras acenderam as sinapses: primeiras e caras reminiscências... E quando iluminaram os lábios, ao pronunciá-las... Você já declamou muitos poemas para pessoa ou plateia? Que efeito causaram?


É defeito genético, pois várias anomalias literárias se proliferaram desde a raiz da grande árvore de ikebana Costa Marques. Alguns de minha família poetaram – e bem! Em estado de criança eu já brincava com as palavras e as ligava a coisas nada a ver, daí a cintilância das inutilidades. Quanto a declamar, putz!, só tenho coragem de fazer isso para a minha mãe e, talvez nem devesse revelar... mas suspeito que ela não goste muito do meu hálito palavral. Ela afirma que eu blasfemo... Será?!


Das tantas formas que acomodaram versos [vasos ou ânforas], em quais a poesia melhor se aninhou, segundo sua percepção estética? E mais: qual viabiliza mais a reverberação do verbo? Quando o verbo reverbera?


Prefiro poucas estrofes. Prefiro os versos curtos. É dos pequenos frascos que se perfumam as protuberâncias córneas dos colibris. É da monogamia dos tuiuiús que o Pantanal se iconiza. Eu busco a vértebra do silêncio. Uma molécula de lágrima concentra todos os oceanos – e também o Mar Morto. Considero minhas considerações mui explicativas, são verbos que se reverberam em ecos sinteticamente infinitos.


Deus monologando de Si para Consigo, sem palco ou criadagem. Que tatuagem é essa? Ideograma, poema ou ateísmo? E o Nirvana: é acessível ao verbo, ou Apagar da Chama?


O verbo primeiro não pode ser proferido, como nos ensina a Cabala, mas pode e deve ser silenciado em alto e bom tom: eis o solilóquio de Javeh. A fusão de deísmo com ateísmo é para mim o Nirvana, porque esta fusão faísca... faísca silente e tonitruante...




Quando a palavra te evoca o sorriso, além dos haikais humorísticos [os haikai-renga]? Explicitar a cosmologia implicada em Saramago, achar o sumo surrealista num gomo de Machado de Assis, isso tudo é nano-filosofia, esboço de resenha poética ou instant(ân)e(o) photográfico?


Cultuo o poema-piada, não como culto, piada ou poema, mas como objeto sujeito à contemplação. Haiku é uma forma mínima de se pensar o Universo. O mínimo não é menos, dezessete sílabas são capazes do óbvio que não se desvela, realizar o impossível, explicar o inexplicável etc. Tudo se encontra por meio de si mesmo, observe M “ACHADO”, SAR “AMAGO”, isso tudo são nanicos como os morfemas que se alcandoram ao condor andino.